quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Amada e o Amante

Ela está só em seu quarto. Já é madrugada, a chuva lá fora parou.
Aos poucos a cidade se acalma e os pensamentos então tentam se organizar numa mente inquieta e turbulenta.
Lembranças do passado, que teimam em reviver.
O mundo é mesmo redondo... pensa ela...depois de um novo velho encontro que se dera a pouco.
Foram anos de convivência semanal num grupo misto com gente que gostava de estar ali.
Ela, uma jovem deslumbrada com a vida, sorridente e brincalhona, sonhando com o futuro vindouro.
Ele, um senhor de mais de meia idade, com olhos puros e cabelos cor de neve, observador e envolvido por um sentimento que não se sabia mais permitir.
O tempo passa e ela nunca lhe percebe o olhar diferente, mas ele está sempre lá.
De repente, cartas anônimas, pequenas poesias e enfim um dia, com coragem ele se assume diante dela e diz: “- Sou eu o autor de todas elas."
Ela sorri, enrubesce, perde a fala e de novo sorri. Leva um susto e quase não acredita, se não fosse pelo ar sincero e desconcertado dele. Seria talvez uma anedota de um filme?
Mas não, naquele momento ela soube que era real e verdadeira aquela fala e veio junto uma declaração, daquele que diante dela lhe abria o coração.
Um sentimento de gratidão e angústia lhe tomou o peito, ela o adorava, mas não passava de admiração e profundo carinho, magoá-lo seria cruel demais.
Sorriu de novo e meio sem graça agradeceu e depois saiu.
O silêncio e a distância, têm seu lugar e é bom que existam, pois assim dá tempo do sangue esfriar e a cabeça voltar a funcionar de novo. E assim foi...
Porque isso aconteceu, justo com ela... era essa a pergunta que badalava e embaralhava freneticamente seus pensamentos naquele momento.
Ela que se achava tão desinteressante , insegura, que as vezes sentia medo do mundo, do humano, da vida, tão inexperiente e vazia.
Mas então essa não era a verdade, pois ele, tão maduro e vivido, a viu além da casca, viu sua força, sua beleza interna, sua alma, e despertou pro amor.
Amor respeitoso, melindroso, não correspondido, mas compreendido.
Amor puro, afetuoso, amigo e cuidadoso. Amor de verdade, sem promessas, nem vaidade. Infindo talvez, mas adormecido sem altivez.
A tal distância se fez presente e rumos distintos foram tomados.
Ele sentiu saudades...
Ela um certo alivio e uma ponta de estima por si...
Só que os caminhos sempre se cruzam e de novo reencontros... uma, duas, três e tantas outras vezes, todo grupo presente e complacente.
Depois de tanto tempo... ela nem se lembrava tanto daquele episódio.
Mas num desses cumprimentos e abraços calorosos ele novamente se confessa a ela, mexido e remexido, com o coração estremecido.
Dessa vez ela sorri e diz: Isso é vida!
E os dois se riem e vão em paz... a amada e o amante!!!

2 comentários:

  1. Texto linda! Fala do amor, e não apenas de um amor, mas de todo amor, aquele que descobrimos fora e dentro de cada um de nós...Um encontro formidável esse que você cria. Fiquei encantada com seu conto-poesia!!!Virei outras vezes aqui saborear seus escritos. Abraços. Adélia Carvalho.

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  2. Oi Adélia!
    Nossa .. vindo de você este comentário muito me honra! Fiquei imensamente feliz com suas palavras e animada pra escrever novos textos.
    Será sempre um prazer saber de sua leitura por aqui.

    Abraços pra vc!!!

    Marilene

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